I wanna be drunk when I wake up
On the right side of the wrong bed
And never an excuse I made up
Tell you the truth I hate what didn’t kill me
It never made me stronger at all
19 horas. Noite quente em uma cidade de pessoas de corações frios.
Um apartamento com a fachada pintada de lilás e seu interior de branco gelo. Em cima da mesa uma câmera, recortes de jornais mostrando belas modelos em seus corpos perfeitos, algumas folhas de caderno rabiscadas e levemente amassadas. Um copo de vinho ao lado de uma garrafa já vazia. Álbuns de fotos espalhados contando através de registros de luz a história de uma mulher que olhava atentamente como o tempo lhe fora rígido.
Mentira seria se contasse que ela viveu as maiores dificuldades, ao contrário, sempre teve tudo que quis. Seus pais nunca lhe faltaram com nada, mas ela faltou consigo mesma.
Sabia que era esperta, sabia que conseguiria o que queria, mas optou por olhar seus defeitos ao invés das qualidades. Passou em uma boa faculdade, por momentos teve de si orgulho.
Foi morar sozinha, seis meses depois começou a trabalhar.
Ser sozinha não era difícil, afinal sempre foi só. Não era feia, mas sempre se comparou e perdeu. Perdeu para o que achava ser belo, perdeu para si própria.
Viveu a evitar sofrer, mesmo ao estar com alguém se fazia acreditar que estava só. Com o tempo todos se iam, porque na verdade ela nunca os deixou chegar.
Martirizava-se pelo que não tinha, sofria pelo que não era. Passava todo dia no jornaleiro e prometia a si que na próxima manhã iniciaria uma dieta nova. Recortava “inspirações” das revistas e as colavas no guarda-roupa para no dia em que se revoltava e gritava a ela própria que “não, nada adiantava” arrancava-as todas e rasgava antes de atirar ao lixo. Pouco depois abria o congelador e comia todo o sorvete que escondeu lá, pena que era só ela a morar nesta casa, assim sabia corretamente de cada esconderijo.
Neste dia em que comprou o vinho, tinha ouvido a amiga receber um elogio e tendo inveja disfarçadamente correu ao banheiro para chorar. Lembrou o quanto se achava inferior, afundou as unhas bem cuidadas na pele branca de suas coxas e depois de mais um tempo recompôs a maquiagem e se enfio no serviço.
Chegando à casa pegou as fotos e se limitou a desprezar quem ali foi documentada. Chorou e bebeu, a certa altura já não havia mais lágrimas, mas ainda havia muito líquido na quarta garrafa aberta.
Acordou de sobre salto com o toque estridente do seu celular, uma música irritante que ela nem gostava mais. Com sua cabeça a martelar atendeu quem lá estava a chamar.
Era sábado, talvez ainda bem cedo. Depois de um momento de confusão conheceu a voz do seu primo que ecoava pelo aparelho ganhado de natal. Ele estava visitando a cidade e morria de saudade da sua prima e confessada primeira paixão.
Ela sorriu ao se lembrar que ele foi o dono de seu primeiro beijo e de sua primeira noite, que na verdade foi de tarde na casa da avó, durante uma festa qualquer onde todos estavam bêbados demais para se importarem com primos hormonais.
Ela se recordou ainda que de todos que se sentaram ao lado dela durante o caminho da vida, ele foi o único que ela deixou que lhe apertasse a mão.
Seria a hora de uma nova chance, uma verdadeira paixão?
Talvez, muito provavelmente, desse tudo errado, mas quem sabe a graça da vida não é arriscar?
Contou-lhe seu endereço enquanto jogava as garrafas e todas as fotos das mulheres perfeitas no lixo. Juntou as suas e pós numa caixa que guardava no roupeiro. Ele agradeceu e disse que mais tarde estaria lá.
Ela desligou, tomou um remédio e foi se arrumar. Talvez não viesse a amar, talvez não fosse amada, talvez nunca se amaria, mas sabia que por mais imaturo que fosse, uma diversão nunca seria ruim e quem sabe os dias se tornariam mais belos se ele conseguisse enfim colocar seus braços envolta de sua cintura e caminhar ao lado dela, como ele sempre desejou.
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